Os dias são outonos: choram...choram... Há crisântemos roxos que descoram... Há murmúrios dolentes de segredos... Invoco o nosso sonho! Estendo os braços! E ele é, o meu amor, pelos espaços, Fumo leve que foge entre os meus dedos!

-Florbela Espanca-

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Dos excessos de consciência




Eu sempre estou à beira da morte por tédio!

O asfalto encardido, o menino no sol empinando a pipa

O catecismo, o sermão e a missa

A igreja de arquitetura indefinida, fratricida e raquítica

Estou à beira do tédio!

Tédio abismo

Profundo como o oceano

Vertiginoso feito chapéu mexicano

Tédio do carro plotado descolado

Com som distorcido e assoalho rachado

Da grama semeada e o mato tomado

Do capim vagabundo coçando

Do uniforme fluorescente de “não me atropele”

Da varejeira fluorescente que nada repele

Das vagas

Do lume do vaga-lume voando

Que raciona energia e vai se apagando

Do policial com seu óculos aviador

Escondendo olhos de rapina e pavor

Todos são tão previsíveis!

Eu poderia escrever exatamente como são...

Sinto tédio por toda gente

Do pedreiro que aquece a marmita na boca

E umedece a farinha na saliva

Do padeiro que nos dá de beber seu suor

E de comer pão francês, broas, moscas assadas...

Da prostituta negociando seu sexo

Brindando os mais simpáticos com sua língua

Sinto tédio por toda gente, minha gente...

O problema, bem provavelmente esteja em mim.

São excessos encalacrados em minha mente

Empurrando pra dentro do mais profundo tédio

Assim como eles também morro à míngua

Abraçado às conveniências... Carente das coisas recém-nascidas.


(Jefferson Geraldo de Moura e Enia Celan)



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