Os dias são outonos: choram...choram... Há crisântemos roxos que descoram... Há murmúrios dolentes de segredos... Invoco o nosso sonho! Estendo os braços! E ele é, o meu amor, pelos espaços, Fumo leve que foge entre os meus dedos!

-Florbela Espanca-

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Dos distúrbios duma cidade grande



  Abaixo de minha janela tem uma família que briga o dia todo, o filho mais novo esgoela música gospel... Eu vi o dono da banca quase bater em sua mãe enquanto me atendia. Cachorros de rua não têm todos já devem ter morrido atropelados. As pessoas tem um ar de “que que tá olhando” e  sai da minha frente... A promoção do prato feito é a seguinte: se você comer um prato grande, paga R$10,00 e ganha um suco, mas se você é do tipo de mulher pequena, que come pouco e pede para o prato ser menor, aí você tem que pagar R$12,50...  A maioria das pessoas não gosta do que fazem, da pra ver nos olhos delas, uma previsível falta de vontade... Pedi para um taxista me levar a uma boa livraria, e pra minha surpresa; lá estava, uma boa papelaria.
A noite não tem sapos e cigarras, é dos alarmes, que tocarão insistentes de cinco em cinco minutos... E quanto às estrelas? — São quadradas.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Piracicaba

Eu com minha água cheia de estrôncio,
Na noite fresca, em frente a cervejaria artesanal, fechada.
Estudo uma angustifolia...

A moça do brinco de pérolas saltou de seu quadro,
Tirou as pérolas, descalçou-se,
Foi viver a dor como ela é.

  

domingo, 12 de outubro de 2014

Sobre a qualidade do hipócrita



A você velho estranho, daria todo meu desprezo,
Sente-se, aguarde uma barrica de lágrimas antigas;
Espere-a deslizar pra dentro da boca, deve ser degustada com precisão.
Pode ser uma velha-amarga amadeirada, ou uma velha-agridoce aguada,
Na melhor das hipóteses... É, põe na boca só aquilo que lhe der vontade,
E teus palavrões serão como bênçãos...
Aquele que fez o que quis, pode chegar no final da vida feito hipócrita,
Mas ainda assim poder dizer que viveu feliz,
E o gemido será tão colado na língua,
Quanto o néctar dos frades engana na embalagem.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Erosão




Minha boca tem tantos sulcos, quanto a terra arrasada pode ter,
Você enchente, não mais me encheu? Nem de ódio nem amor?
Arrastastes tudo que era meu, apenas volte, lave-me a fome...