Os dias são outonos: choram...choram... Há crisântemos roxos que descoram... Há murmúrios dolentes de segredos... Invoco o nosso sonho! Estendo os braços! E ele é, o meu amor, pelos espaços, Fumo leve que foge entre os meus dedos!

-Florbela Espanca-

quinta-feira, 27 de março de 2014

Poesia de mata morta

O muriqui não alcançou o buriti
Riu o lobo guará,
O bando desvairado desviou-se
O primeiro seguiu vaga-lumes,
O segundo morreu queimado,
Um terceiro por asfixia tentando salvar o segundo,
O quarto estendeu os braços e disse:
— Volta, volta, volta, pra favela do Rio!

sábado, 15 de março de 2014

Bilhete à um serial killer




Sabe que parte sua comerei?
O interior das coxas.
Eu preparo as facas,
deparo-me com meu doce sangue,
se estivesse aqui já degustaria
as pontas dos meus dedos,
o corte ficou bom, mas ainda não o vejo.

Esta noite, no meu formol, e eu prometo,
suas sobrancelhas permanecerão como um casal de peixes negros,
O meu troféu.      


                                                                                                                                             p/ P. Antunes 

Vício




Meu vício de olhar
Só me olha!
Minha esperança no ar
Só te cheira!
Meus gritos calados,
Minha boca costurada
Dilacerando por dentro,
Fique trancado pra depois.


                                                                                                                                              (2006)

Silêncio de fim



Foge dos livros que te dei
Recheados de dedicatórias...
Engaveta-os para não ler
Que bobagem; se são você.
Deixou de usar o chapéu,
Impregna-te a mente de mim?
A Flor que furtamos desabrochou,
Brilha da tua janela sem fim.



26/08/2011

quinta-feira, 13 de março de 2014

Bosque Solidão do abacateiro sem flor


Ladrilho a rua com mexilhões,
Passem descalços.
A minha não seria de pérolas, seria?
Então ladrilho com mexilhões.
Sambaqui.

quarta-feira, 12 de março de 2014

A fuga do louco


— A vida é uma só! só ó  ó
Grita o louco duma montanha...
Ecoando por todos os lados,
Ele é feliz, porque pode subir numa montanha e gritar,
Pode tropeçar num cachorro ferido, e o curar,
Pode até mesmo pular dali pra ninguém chorar,
Esboça um sorriso pro vento,
Cantarola cantigas de ninar,
Saltita em passos largos e dançantes,
Para a boca pra chuva, ruiva no luar.
Ele é feliz porque não sabe seu nome
Tem todo o espaço, todo o lugar,
O tudo e o nada são seus!
Então joga a bermuda fora
Senta em cima do formigueiro,
Domina um cavalo negro, cai!
Puxa o tatu do buraco de cobra
Adormeceu.

terça-feira, 4 de março de 2014

Alma vaga

Minha carcaça está tão leve,
E se alguma ventania cor-de-rosa me pegar?
E se eu parar no flexível galho do penhasco,
Você corre por mim? Se desespera por mim?
Me colhe feito flor quase cadáver?
Nós trabalhamos como se deve
Com a mente, a carcaça e o coração
O que nos poderia faltar?
Talvez alguns pontos brix num dia
Umas cinzas de pizzaria no outro,
Umas cascas de ovos da padaria...
Mas em nós, o que poderia faltar?
O que apodreceria um amor verdadeiro?
Temos um reino com um vinhedo,
Na paisagem mais linda,
O que poderia faltar?
Realizei quase todos os meus sonhos,
E eu só tenho vinte e cinco...
E quase ninguém que conheci,
Acreditou num certo segredo...
Então eu cuido de cada detalhe,
Daquilo que escolho querer,
Pois acontece!
Não importa o peso da carcaça,
O vento fica inteligente.








domingo, 2 de março de 2014

Bengala


Não se atormente se eu não quiser ser sua bengala, não sou nem meu próprio ponto de apoio, também não seria seu saco de pancadas, seu álbum de figurinhas animadas... Não se atormente ainda se eu precisar dizer tudo o que penso e na hora que penso. Sentiria falta de um certo pirata se pudesse sentir... Pois não venha pra cá em busca de felicidade, eu nunca tive isso pra te dar, eu sou o erro, a viagem sem volta, a lágrima descontida em pessoa. Vem, joga pedras em meu casco e pede pra que eu não saia? Não arrume coisas pra fazer sem vontade... Já me basta essa vida curta, preenchida de letras ingênuas.  

( X texto não selecionado)