Os dias são outonos: choram...choram... Há crisântemos roxos que descoram... Há murmúrios dolentes de segredos... Invoco o nosso sonho! Estendo os braços! E ele é, o meu amor, pelos espaços, Fumo leve que foge entre os meus dedos!

-Florbela Espanca-

sábado, 31 de janeiro de 2015

O rabo da traição

o pai, alcoólatra, traía sua mãe no bar,
ele foi o primeiro a ver...
ainda criança

cresceu,
talvez odiasse as mulheres
bebia feito o pai, eu quis terminar,
só não o queria insano
ele me deu um tapa,
cuspiu na minha cara
 
**

três amigas
três traições
três amizades desfeitas...

então,
traí três vezes
o mesmo cara
que me deu um tapa,
cuspiu na minha cara
e ele, tinha uma arma...
mas juro, contei tudo a ele

pedi, mate-me!
não pôde, o rabo, já vinha nele
e continua...
por aí







Avante



desapegai, pegadas
no beijo do mar
na espuma tóxica
no raio eficaz

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

O musgo e a montanha




serei uma dessas mulheres movedoras de montanhas?
apenas vejo sujeira em meu caminho...
sabe, eu nunca me canso, mas os outros se cansaram por mim,
eu e os meus oito gomos de pitanga
mas a vida não deve ser um esperar a morte...
estarei feliz em cultivar o mais belo musgo?

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Dei-me



Se for odiar? Odeie-me
O bastante pra acertar um soco
Pra fazer-me desmaiar
E eu o admirarei
Eis o que me odiou
Que me nocauteou
Uniu estes fluidos
Eis o que nada acrescentará
Apenas misturou mais
Da confusão do mesmo

Homicídio



Eu não queria ver,
o tédio estava lá raivoso
abra os olhos!
eu não abri
colocou umas escoras
faça valer a pena!
mas todos estão cegos!
me empurrou no abismo
você é tão fraca.

Ao animal individual
guardei o melhor frasco
de minha indissolubilidade
errei somente, na dose

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Almoço do poço



Poço, esboço
Não é a palavra mais linda?
Poço
Poço
Posso?
Amou até o fundo do poço!
O moço
Do poço
Que fosse, fodeste
Fossa

PEITO PORTO



Existe uma relação inexplicável
Entre meu colo e seus cabelos
Entre a circunferência do teu céu
E o espaço apical dos meus seios
Atraída pro buraco entre nossos travesseiros
Vendo tua cabeça encolhida nesse berço
Odor! de castanha pro seu de guaraná
Oh dias, que não sabe bem o que ali faz
Noutros, somos crianças buscando travessos
Matar toda a fome em busca de paz
Por serem apoios macios, vai ficando mais
E cada vez mais, neles eu te mergulho...
Saio de mim, perco as forças, flutuo
Entrego tudo a você até me esquecer
Que só quando se sente frágil e inseguro
Capacita-se desancorador na calmaria do cais.


(Jefferson Moura e Enia Celan)